sábado, 28 de abril de 2012

Comunicado


Texto-Manifesto da Intervenção: "Com Roldão Mangueira, nem Pedro afunda", que realizaremos de 13 a 20 de maio, expressa o ideário estético do Coletivo Mídias nesta Ação Cultural. Também visa minimizar apressados julgamentos que sempre abasteceram o sacramento dos Borboletas Azuis; além de reforçar o convite à vivencia proposta.
Sendo manifesto é uma declaração das premissas estéticas da Intervenção e do posicionamento do Coletivo Mídias

Comentários podem ser postados aqui no blog ou enviados para o e-mail: coletivomidias@gmail.com 


Obs. O manifesto pode ser lido no post abaixo. 

domingo, 22 de abril de 2012

Guia Manual Para Cegos Da Fé


Texto-Manifesto do Coletivo Midias para intervenção urbana:
 "Com Roldão Mangueira, nem Pedro afunda",
 do projeto A Cidade em Estado de Arte.


A CIDADE COMO UM DISCURSO...

"Alô Alô minha Campina Grande / Quem te viu e quem te vê / Não te conhece mais /
Campina grande tá bonita, tá mudada / Muito bem organizada, cheia de cartaz"
O termo cartaz que encerra o refrão da música-homenagem de Severino Ramos à Campina Grande, vem demarcar que a cidade está importante, goza de status, é respeitada; enfim, que não é mais uma cidadezinha... Aliás, este foi e tem sido seu o mote-símbolo principal, como se fugisse da morte, tudo em Campina deve ser grande.
 O aquecimento global e imobiliário não é luxo apenas dos grandes centos ou das capitais, faz-se presente aqui também. Há inclusive, uma feira imobiliária tida como a maior do segmento no estado, um megaevento exibindo as inúmeras opções, sobretudo de apartamentos...Aliás, quem vem à Campina... Percebe mesmo que a cidade cresce verticalmente. Pronto. Achamos a ponte para entrar no assunto da ponte.
Se há uma imagem, ou melhor, um signo que nos mostre o que é a modernidade, certamente a cidade verticalizada é de longe, o mais apropriado. Grandes pensadores da atualidade, como Michael De Certeau, estuda o espaço da cidade e sua crescente verticalização como um discurso, um discurso que articula e executa estratégias de poder.
Neste emaranhado de tijolos opera-se uma separação, de um lado os habitantes e, de outro, os transeuntes. Em "A invenção do Cotidiano", De Certeau conclui que "tudo se passa como se uma espécie de cegueira caracterizasse as práticas organizadoras da cidade habitada. As redes dessas escrituras avançando e entrecruzando-se compõem uma história múltipla, sem autor nem espectador, formada em fragmentos de trajetórias e em alterações de espaços: com relação às representações, ela permanece cotidianamente, indefinidamente, outra ".
É curioso que a nossa cidade não estranhe o crescimento vertical. Ao contrário, vê-lo sempre como sinônimo de avanço, emprego, boa moradia. Mas, poderá estranhar a precária ponte que se instalará provisória e inócua, cruzando a lama escondida em seu principal cartão postal.
 A resposta para esta estranheza ou não-estranheza é uma só: no caso da verticalização, originalmente posta como um plano moderno de urbanização, temos a construção dos espaços, enquanto que na ponte-instalação, o que se dá é o fenômeno do lugar, muito bem conhecido pelos mendigos, prostitutas e maloqueiros que acham frestas nos espaços legitimados e põem-se numa relação de lugar ( nas marquises, descampados, viadutos etc...) nos espaços da cidade.
Definidos como legítimos, os espaços contornam a cidade enquanto os lugares são incursões mais ou menos desautorizadas e que tentam reconfigurar os espaços, isto é, a malha que tece sua estrutura de relação. É óbvio que estes espaços da cidade não existem para estes "sem-lugares" ficarem estáticos. Afinal, eles não estão parados, ao contrário, realizam um intenso e diário movimento. E, já que não se pode visivelmente apagar, por definitivo, estes espectros de gente, nós, por meio das instituições, circundamos os espaços com muita nitidez nos recortes de suas margens, Enquanto eles (os outros, os transeuntes, trabalhadores, desempregados) perambulam em busca de lugares.
Novamente De Certeau clarifica esta cena: "Caminhar é ter falta de lugar. É o processo indefinido de está ausente e à procura de um próprio. A errância, multiplicada e reunida pela cidade, fez dela uma imensa experiência social da privação de lugar - uma experiência, é verdade, esfarelada em deportações inumeráveis e ínfimas (deslocamentos e caminhadas), compensadas pelas relações e os cruzamentos destes êxodos que se entrelaçam, criando um tecido urbano, e posta sob o signo do que deveriam ser, enfim, o lugar, mas é apenas um nome, a cidade", que só cresce, como no mote-alarme da Nação Zumbi: "A cidade não pára, a cidade só cresce / O de cima sobe e o de baixo desce". Não precisamos de Arquimedes para compreender esta matemática. A experiência do inquilino, do desempregado, do subalterno dá bem a medida desta horda de exilados, como bem já nos mostrou Zygmunt Bauman ao inundar, esfarelar e liquidar toda experiência ocidental moderna de coletividade num cenário -  precário - que separa apenas dois tipos de atores sociais, o mendigo e o turista.
Não nos precipitemos, é um equívoco entender que é o turista quem caminha enquanto o mendigo será aquele que permanece. O que Bauman assevera é exatamente o contrário: o turista, só passa, só vê o exótico e só age pelo consumo. Já o mendigo é puro desterro e pano de fundo de um mapa sem destino.
É por isso que não há outro lugar para arte senão incubar-se nos espaços da cidade! Infectá-la de novas cartografias, de outras possibilidades à subjetividade de seus concidadãos. 

UMA ARTE NÃO-ARTE

Em sua utopia, este projeto fabrica uma possibilidade de reconversão intercultural entre turistas e mendigos, criando uma trilha com as migalhas de suas cartografias pela cidade. Um caminho aberto pela memória e seus registros, refundindo seus arquétipos mais triviais, provocando a inauguração de novos agenciamentos de suas práticas isoladas, solitárias e autodestrutivas.
O chamamento que esta estranha arte faz é o da superação, invocando não a contemplação mórbida, mas em ato, num jogo de ação onde a vivência autodirigida abre-se às mais íntimas vicissitudes dos participantes.  
Diante disto, propõe-se a arte da intervenção para recuperar ou mesmo inaugurar um locum no meio dos espaços vigiados que tece a cidade. Assim como os transeuntes da cidade panótipa, a arte da intervenção, utiliza-se de táticas para escavar modos de existir em meio ao espaços.
De fato, não será um Caminho de Compostela, onde o fiel é guiado por uma máquina de fé milenar que traciona o sofrimento, a privação, a devoção a uma iluminação final e redentora para que o corpo purifique-se pelo sofrimento; ética central do medieval religioso europeu que nos se impregnou como uma tatuagem mental.
A superação aqui é mais prática; de um lado, contra o odor e a inércia paisagística deste safári diário (o açude velho). Visível como Édem apenas nas lentes das publicidades, mas visceralmente sentido pelas narinas do corredores amadores. Por outro lado, é também contra o apagamento que intenta esconder o passado preconceituoso contra a fé alheia, encerrando para os desvãos do ostracismo os fatos "licenciosos", impuros. Numa inquisição pré-nazista da autoridade religiosa e midiaticamente comandada pelos donos da voz da opinião pública dos idos de 1980, como fazem, ainda hoje o "jornalismo verdade", tão irresponsável quanto malicioso.
Este projeto, como fruto da Arte Conceitual, que se destaca pelo aspecto determinante da ideia, traz para a pauta de arte da cidade,  1) o trânsito dos meios; 2) a precariedade dos materiais utilizados e; 3) a atitude crítica manifestada frente às instituições. Em seu compositório, é uma Ação Cultural articulada de elementos transversais (educação ambiental, história local e vivência artística) para os concidadãos campinense.
Sua premissa evoca o acesso democrático à cultura. Pois democracia "é pluralidade cultural, polissemia interpretativa visando a diminuição do analfabetismo visual". Neste sentido, nos ajuntamos ao pensamento de Canclini ao afirmar que "esperar que os museus existam para aplainar a carência do cidadão é no mínimo uma negação à realidade excludente de nossa sociedade na sua oferta de conscientização cultural" das populações de cidadão de papel que existem nos arquivos burocratizados do Estado. Esta proposta é, antes de tudo, um encontro [artístico] do cidadão com sua história, com sua cidade e, sobretudo com sua cidadania.
Em resumo, ao se reclamar uma filiação para esta Ação, neste moldes, pode-se gerir que é uma Ação Cultural modelada pela Arte da Invenção ou, como mais habitualmente conhecida, de "Intervenção Urbana", nascida da performance, do happening e do teatro pós-dramático. Cremos que são termos bem comuns numa cidade tão moderna - e artística - quanto Campina Grande, não?
Não? Não! Que horror. Se bem que, nem de nossa memória, nem quando digitado no Google: //Arte contemporânea em Campina Grande//, não encontramos nada do gênero, senão um simpósio, do tipo kitsch , de  divulgação pelo MinC.
Mas aí, ficamos a meio caminho! Como uma cidade moderna como Campina Grande desconhece a realização de um tipo de arte tão comum à sua condição moderna, de quem vive e reflete  a modernidade? Não haveria aqui um descompasso que vai de encontro ao tal CARTAZ atribuído na música de Severino à cidade?
A não ser que se trate do Severino ou da música errada. Seriam então, o Severino de Cabral? - não confundir com o Teatro Severino Cabral, em ruínas mesmo após uma megareparação -, A lama de Josué de Castro e a Cidade, cantada por Chico Science? já que "O de cima cresce e o de baixo desce". Sim, crescem os prédios, já sabemos. Mas enquanto a arte? desce? Pelo menos mortifica-se nos carrinhos de som ambulantes, no calendário junino de uma festividade cada vez mais para ar-condicionados...Será que esta arte que propomos não vai dá com os burros n´água?
Mas ainda estamos do outro lado, quer dizer, falta a travessia. Que tipo de motivação, fé ou necessidade poderá nos fazer cruzar esta ponte radioativa? 

UM DRAMA SOBRE ÀS ÁGUAS


De modo geral, esta travessia ganha contornos dramáticos, 1) pela opaca educação estética da população, 2) seguindo da reconversão histórica implícita e, por fim, 3) pelo vulto ecocrítico preposto.
Nos três passos dessa cena reside, inicialmente a) a ideia de que aquela ponte não resguarda nada de artístico, de não se tratar absolutamente de arte. De fato, caso se pense num tipo de arte que dá continuidade às formas de uma centralidade para a aura do artista e para a cegueira e passividade do observador.
 O negócio aqui é outro. Aliás, não há negociação do tipo compra e venda, mas um jogo onde não subsiste um espectador idealizado conforme a estética tradicional; nem reflexivo, como queria Brecht, mas participativo, isto é, disposto e capaz de construir sua função, sua forma e o sentido de si e da arte, a partir de uma vivência prática. Para tanto, esta arte provocará situações fora do espaço tradicional (o museu, o teatro, etc), se colocando como evento dentro do cotidiano, propiciando ao atuante - não profissional, não especializado - um papel de construtor, no sentido de pesquisar, de transformar a realidade em laboratório constante e de ressignificação de sua relação mais trivial com os espaços e seus comandos, suas formas, seus conteúdos...
O segundo passo, b) exigirá um retrocesso nas práticas de como engolimos o relato "Histórico" dos fatos de nossa história.  Para nós, a violência operada pela imprensa, o autoritarismo social de nossa herança católica sobre o modelo para dimensão espiritual e o bullying social que leva a turba ao ataque contra os anormais, os fora da norma, os indesejados (mendigos), são a lama de massa invisível sobre a qual a ponte se instalará, possibilitando aos participantes uma travessia capaz de evidenciar algo a mais sobre as águas: imaginar outras rotas, pontos de fugas para a história, o açude e a arte locais.
c) O terceiro e decisivo passo, para a travessia simbólica de Roldão, acaba por revelar pedras no meio do caminho na máquina obscura de poluição que se tornou o açude velho. A proposta é de formatar um mapa citadino cuja cartografia comece a ser desenhada pela participação dos concidadãos, que conscientes de que a saúde do açude velho é premissa para a saúde paisagística de suas mentes e sociabilidade. Possível quando a maturidade política conseguir entender, como já explicou Félix Guattari: que o social é diferente do coletivo. Dura lição que a cultura brasileira não consegue superar/atravessar.

UMA TRAVESSIA CONCEITUAL

Neste caso, um bom começo é pensamos que é a arte quem poderá conduzir nosso limites. A arte tradicional é vista como oposto à vida. Os manuais dizem: "De um lado tem-se a vida, do outro, a arte", Da mesma sorte, é a vida com relação à morte. O pensamento dual sempre nos coloca entre uma ponte, cuja epigrafe mais aceita é: sujeito X objeto (na ciência), vida X morte (religião), forma e pensamento (filosofia), vida e arte (arte tradicional).
Para que tanto balanço entre dualidades gastas não acabe por deixar a arte e a cidade desamparadas, vai o esteiro desta proposta: Arte conceitual! Talvez os designs de ambientes, persuadiam os clientes na tal feira de imóveis com um: " O conceito deste apartamento é clean", ou, "Este é um edifício conceitual...". E, mesmo sem certeza do que viria a ser "CONCEITO", houve muitas compras de apartamentos conceituais.
Mas nós não cometeremos tal pecado! Compraremos o conceito de Conceito na arte para poder sair desta lama que junta e confunde tudo.
 O drama agora posto, para a cidade e seus artistas é semelhante a de um filho adotivo que de uma noite para outra descobre que seu pai biológico não morreu, como lhe disseram os pais adotivos. Para muitas instituições e artistas, o melhor mesmo é entender a arte contemporânea como conceitual, afinal, o importante para o filho é a forma como ele vive, não quem o sustenta.
E, para evitar desencontros entre os críticos, artistas, comentadores, agitadores, jornalistas e concidadãos, tomamos uma pequena fala de Cláudia Fazzolari, explicando o que vem a ser a Arte Conceitual: "Nas zonas de interesse da Arte Conceitual percebemos um espaço que problematiza a própria concepção de arte e seus respectivos sistemas de legitimação e que elabora especificamente objetos ou formas, mas teorias e conceitos".
Toda esta apresentação paternal sobre qual tipo de arte estamos lidando, serve como um colete salva-vidas para que a travessia não seja como, entrar na sala errada e assistir um outro filme, ou mesmo, não descobrir que o DNA em mim pulsante é daquele sujeito - estranho - ali ao lado.
Eis a cobra: Na contemporaneidade, as artes de intervenção, solidificam um caminho iniciado por Duchamp; exercitado mais das vezes sem materialidade prévia, a arte de intervenção é uma modalidade de arte que transgride a própria noção de arte, pois verte-se entre esta e a vida,  permitindo que ações, situações e performances misture os pólos da criação e recepção para além das formas, dos materiais ou técnicas; apresentando um formato da não-destreza, não-habilidade, e, sobretudo propondo um protagonismo através do ruídos do corpo social.
O pau se verá, ou não, na travessia. Dependerá da tática de cada um, pois o risco da lama é parte constitutiva. As cenas da arte de Intervenção, como diz Carminda Mendes, são táticas de invenções poéticas do espaço, "seu efeito é o de perturbar aquilo que está fixo, ressignificando os signos, mudando os valores das coisas". Ou seja, aqui a arte é sem matéria, é apenas uma tática, pode?


O PAI DA COISA NASCE DO MITO MIDIÁTICO

Artaud, compreende Van Gogh como um "suiciado da sociedade". Nós requeremos este título para Roldão Mangueira. De verdade, o [seu] mundo acabou! Após a noite fatídica de 13 de maio de 1980, cuja imagem pode ser sancionada como a vemos em NOITE ESTRELADA, onde Van Gogh pestanejava as lembranças do asilo de St. - Rémy e compunha um assombroso quadro num mix de elementos imaginários, reais e interculturais.
Os astros aspirais azulados de Noite Estrelada  podem iluminar o tipo de mistério negrume que tomou a mente do líder dos Borboletas azuis no dia em que o mundo não acabou.
NOTA: Haverá, oportunamente uma discussão sobre o caráter religioso que o fato inevitavelmente arrasta, por isto não nos ocuparemos dele aqui. Por ora, nossa visagem é sociológica e cultural, apontar motivações de ordem metafísica seria, além de inócuo, insensato e um contrasenso à nossa posição.
O velho Brecht, nos advertiu que "triste será o país [da sociedade] que precisar de heróis". A política cria cenários deploráveis para em seguida inserir heróis vendáveis. Assim, todo herói precisa de uma tragédia que lhe dê fama. A tragédia de Roldão, prenunciada ao imitar o Filho de Deus, teve sua caricatura devidamente cravada pela imprensa, fazendo com que, pela primeira vez, as fedorentas águas do açude velho pudessem reluzir algo em meio à toda insalubridade: Criou-se o mito Roldão Mangueira. Sabemos que a intenção de andar sobre as águas do açude velho foi pura "invenção" (no mau sentido do termo) da imprensa transcontinental da época, que já era globalizada mesmo sem o saber. A trivial maledicência jornalística de fazer um Ctrl C e Ctrl V irresponsáveis criou o mito Roldão Mangueira, cujo erro trágico foi dá audiência aos microfones e máquinas fotográficas, pensando estar, divulgando à vinda do Salvador.  Tivesse pago um espaço no meio, poderia até ter seu programa pastoral nos horários mais nobres do "quarto poder", ou mesmo ser ovacionado hoje como uma celebridade local.
Mitos não morrem, são apagados, trocados, substituídos. Contudo, o triste fim de Roldão Mangueira, é uma afronta à morte utópica da própria cidade. Nossa impressão é que a própria família Mangueira, seguiu o rito de não memoriar seu patriarca suicidado.
Esta Ação Cultural, compreendida como uma remoção deste cadáver social, será feita com escavadeiras artísticas, com hastes sensíveis o suficientes para recuperar o ápice de sua vida, que era a liderança dos Borboletas Azuis, colocando-o novamente na cena onde foi assassinado: prestes a andar sobre as águas do açude velho!


"INVENTAÇÃO"... SOB O SOBRE

Como arte, esta Ação Cultural, é um tipo de ready-made grotesco, assombroso, cuja apelação persuasiva à cata de participantes (outrora espectadores) se dá por uma central oposição de seus caracteres em que o "risco" ou a "fé" são seus princípios subjetivos de significação.
Sendo que, este sentido às avessas é perpetuado num motor-contínuo deste sentido ao contrário, pois a fé não é a mesma a que teve Roldão, mas a da física de Newton e da matemática de Arquimedes, sobre as quais se assentaram os estudos técnicos de pré-produção.
 É desta forma que o fator risco é parte - estrutural - da provocação da própria recepção da obra que se apresenta propositadamente sem o status de arte, para exatamente ejetar nos participantes a construção ou sentimento particular de uma significação; tendo, como lenha, forno e tacho, as lembranças do mito criado em 13 de maio de 1980; o arsenal caricatural que a cidade construiu em torno dos Borboletas Azuis e; a - sensação vertiginosa - da poluição demoníaca que se engajaram nos exatos "sem"-re-bilhões de moléculas que compõem as águas do açude velho e; por fim, como tempero, o desejo de superar a preservação que o ator "precaução social" toma como rota de sentido para qualquer interação com a arte. Sentimento subnutrido pela inferência secular das produções artísticas que, até o presente pairaram na certeza conceitual dos concidadãos campinenses, fazendo desta intervenção uma não-arte e um impropério aos modos cidadinos de "curtir?" a arte.

O PARADOXO DA NÃO-ARTE

O gol mais espetacular perdido deste jogo é que, neste caso, a cidade, ao entender como não-arte esta proposta, acaba por delinear um sentido legítimo para ela, uma vez que se trata MESMO de uma não-arte conforme o termo tradicional que se tem de Arte. E assim, ao que tudo indica, parece que não sairemos deste jogo de paradoxos. Muito possivelmente a cidade, ao ver a instalação cortando o açude velho, estará desesperada, como há 32 anos atrás, uma vez que não saberá qual sintoma deve abastecer a sua visão.
Será que ela (a cidade) ficará pululando a mesma esquizofrenia?  Dividida sem fé e tendo que sorver aquela loucura sob a forma de uma ponte entre o surto de seu inconsciente coletivo e presença indelével de não reconhecer seu inconsciente político que varre sua percepção com dejetos de seu próprio cotidiano?
 Mas afinal, quem é a cidade? O povo, a multidão ou a massa de seus concidadãos proto-políticos numa geografia suculenta, cercada de interesses divergentes? A pista que nos dá M. Canevacci é que a cidade é polifônica.
Esta intervenção como num videoclip, quer refazer o caminho do gol perdido, permitindo que seu principal jogador, Roldão, realize simbolicamente com a ajuda de seus extemporâneos outros riscos nos lugares que sulcam o futuro da cidade.
Pode-se ainda perceber esta intervenção com uma máquina subjetiva que aspira o pó da história para que cada cidadão possa colher suas heterogêneses sobre as perspectivas que são propostas. Com tantas finitudes anunciadas: de Deus, do capitalismo, da identidade, do sujeito, tudo se torna pueril, descartável, como as desnecessárias pet´s que "damos" involuntariamente aos mendigos e catadores sem refletir seu consumo fetichista.
Se o mundo não pode se transformar, ele está acabado. É esta a mensagem que poderemos perseguir na travessia... É claro que o caos esperançoso do filme 1012, que descontextualiza as previsões da cultura Maia, são inocentes  imagens se ladeadas ao Melancolia de Vons Lars Trier onde as ações humanas são sobrepostas por uma malignidade natural do planeta. Estes recortes fílmicos, muito mais que nos sensibilizar sobre o fim dos tempos, nos catequiza visualmente sobre como podemos mudar o rumo, trilhar outro caminho. Mas, que tipo de sensibilidade esta ponte nos traz, além da memória, da cidade, da ecologia e da arte?



ANUNCIAÇÃO DOS TOLOS


Assim, como Roldão, nós [inocentemente] acreditamos no sobrenatural ato ficcional do Estado como demarcador de nossa cidadania, e, contagiados pela mensagem do anjo-anunciador Moacir Carneiro, que afirmava ter deixado fitas de áudio das entrevistas que fez com Roldão Mangueira, sob a proteção da Biblioteca Municipal de Campina Grande (quando ainda funcionava no Centro Cultural), nos atiramos apressadamente até aquele templo do saber.
 O senso democrático e educativo do ilustre pedagogo campinense não poderia ver naquela instituição o mais adequado lugar para que a memória do pensamento de Roldão pudesse ter acesso infindáveis.... E lá formos nós em busca do tesouro, mais para confirmar seu desaparecimento do que confiantes na sua existência. Constatamos que a Biblioteca  Municipal de Campina Grande é um fantasma que foge do conhecimento dos estudantes como o diabo da cruz.
Anos depois, cansados dos incômodos cômodos da Casa Félix Araújo, na Maciel Pinheiro, a vereação bradou: "Precisamos de uma câmara mais adequada, com ar-condicionado, estacionamento..." "Já sei!", disse a voz do consenso: "Aquele prédio da biblioteca é perfeito. Tirem os livros, os estudantes não vão nem notar!".  Não vamos gastar linhas sobre o descabido desta troca, ou melhor, deste furto à psicogênese citadina. O fato é que sendo um fantasma, a biblioteca fez prontamente desaparecer os únicos documentos sobre nosso mito.
Responsabilidade democrática?  Novamente perguntamos: De quem? dO povo, dA multidão ou dA massa de seus concidadãos infra-políticos desta suculentas campinas, cercada de interesses divergentes?
Se relacionarmos a decente intenção de Moacir Carneiro com o vislumbre metafísico de Roldão, facilmente teremos certeza de que há, entre o céu e a terra, mais mistérios do que na sonha a nossa cidadania. Somos tolos por desejar acessos democráticos ou por suicidar um percurso pessoal?
Para finalizar, antes que esqueçamos, este texto é um manifesto! Como a Caixa Verde de Duchamp, quiçá, um dia, esteja ele num papel ou suporte mais sofisticados. O que, em nada mudará seu tom pedagógico e político para uma arte não verticalizada.

CONTATOS :
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Ágora - Produção e Execução de Projetos
agoracep@yahoo.com.br
Assessoria de comunicação:
Aline Durães

Artistas Executores:
Fhio Rodriguez
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Jarrier Alves
jarrierdantas@hotmail.com

COLETIVO MÍDIAS [ maio de 2012]