EM BUSCA DO POBRE TEATRO?
Ontem, dia mundial do teatro houve um encontro do “Movimento Teatral de CG”
com representantes dos três atores socais mais destacados na área da atualidade:
(UEPB, SESC e T.M.S.C./Secretaria Municipal de Cultura) para discutir, conforme
o programa os “ Desafios e perspectivas do Movimento Teatral Campinense”.
Os fios que se teceram para um final de
encontro positivo e propositivo tiveram sua urdidura traçada por duas
contundentes constatações. A primeira, como uma agulha longa e fina de uma
circularidade atávica de “que falamos dos mesmos problemas de 40 anos atrás”, ou
seja, rememoramos a nostalgia de um passado que é presente. A segunda, tocada
pela malsã e distante esperança (um futuro!?) de que há na fazenda criativa dos
poderes públicos um novo evangelho capaz de impulsionar o homem e a máquina
teatral para uma dignidade de ambos na arte.
Antes do corte final do encontro,
demos um laço bem arrematado perguntando aos poderes constituídos sobre a
existência e a execução de um orçamento
para a cultura. Devo dizer que essa glosa pecuniária cresceu quando
lembramos que existem muito$$ recursos para O Maior São João do Mundo angariado e gasto por outra pasta (Desenvolvimento
Econômico) e não a da Cultura e cujos
posteriores “argumentos” à uma prestação de contas são iminentes e
eminentemente culturais.
Ao razoável dessa questão de excepcionalidade
e exclusividade dos festejos culturais juninos coube-nos lançar a pergunta sobre
quais outras prioridades a gestão Mestra, de Desenvolvimento e Cultural locais têm
para as demais manifestações culturais e para o teatro especificamente.
Tudo muito bom, tudo muito bem,
mas realmente... Há um nó frouxo nessa malha de indignação sociocultural do
segmento teatral, fruto de uma má articulação dos pleitores, ora artistas de
teatro, que gostaria de pontuar como fundamentais à superação dos desafios e
rumos às perspectivas... Impossíveis de serem tratados, de passagem, num
encontro tão híbrido e talvez tresloucado de eflúvios festivos. Apesar de
aceitar que por ora, é o máximo que conseguíamos fazer tivesse um milhão de
encontros.
Comentei, de passagem, sobre a ilegitimidade
de uma “classe teatral” incapaz de
coadunar qualquer matriz de MOVIMENTO TEATRAL CAMPINENSE. Penso que sem este
bastião, haveremos de percorrer mais 40 anos. Gilmar Albuquerque, muito sábio
já disse que infelizmente não estará, penso que irei imitá-lo nesta “ausência forçada”.
A titulo de organização mental
pessoal apresento um fluxo das bases e expectativas avultadas no costurado das
discussões:
Condições de produção (histórico de uma situação anterior) VERSUS
um vindouro panorama profissionalizante (capacidade técnica de produção e estratégias
diversas).
No pontilhado deste binarismo
misturam-se sem endereçamento psicológico e, portanto, sem encaixe ou consciência
de que o fazer teatral contemporâneo exige definidas noções e atributos intrínsecos
quanto aos processos de produção, fruição
e apreciação; e de instâncias estéticas, artísticas, políticas e de
mercado. Pensar tais dimensões sobre o prisma nublado do diletantismo que marca
maioria das produções com relação à execução destas particularidades enquanto pré-requisitos
de uma ARTE, é no mínimo andar para trás (40 anos!?), pois notabiliza um
esvaziamento da “mediação teatral”, dado crucial para o teatro de hoje.
Sem a
correta operação/intervenção na mediação teatral, a diversidade teatral
campinense, pelo menos dos presentes no encontro, toma o gênero pela espécie,
fazendo do teatro um prisioneiro das aspirações pessoais, de um derives entre o
sucesso feliz e digno e uma insalubridade fantasmagórica.
Incluo aí as motivadoras participações da
trívia. (para mim, a UEPB ainda não consolidou uma pauta suficientemente
sistemática de suas ações para que os artistas/grupos de teatro considerem o
último brejo; enquanto o SESC poderia avançar na feitura de um plano que desse
condições para a produção local alavancar Giros Brasil afora, pois até o
momento a veiculação é de mão única; já o T.M.S.C, inicia uma reestruturação
promissora, mas altamente dependente da hierarquia estatal) cabe ao artista/grupos
compreender que esse triunvirato jamais substituirá uma política cultural.
O espraiamento observado como movimento básico(e
único) do MOVIMENTO TEATRAL parece não
colaborar para que os grupos (ou uma
certa mentalidade coletiva) possa cultivar uma ação cênica conjugando ARTE,
TÉCNICA, MAGIA E POLÍTICA – esse velho bordão marxista – de difícil pedagogia
aos confrades da arte cênica, mas de urgente e necessária absorção à corrente sanguínea
do teatro de Campina Grande .
Se uma determinada troupe realiza seu intento junto ao
mercado com relativa absorção e independência ou se uma Cia qualquer mortifica sua criatividade e labor numa condição
mínima de presença da platéia ou ainda, se um grupo traça sua investigação de linguagem que resulta producente; não
se pode, a despeito de contemplar uma ou mais dessas dimensões, negligenciarem
a fatura do conjunto, sob o risco de isolar-se na construção coletiva,
necessária para o enfrentamento do teatro com/na sociedade (negociar com o
mercado; ativar a participação política; exercer a criatividade artística;
propor uma percepção estética).
As questões mais elementares que
ora se discutem na seara teatral mundial perpassam por perspectivas que nem de
longe parece atingir a maioria os teatrólogos e atores campinenses:
Consciência do processo de
criação; ênfase nos processos coletivos; freqüente pesquisa e incorporação do
espectador. Sem estes norteadores internos do teatro, ajuntado à consciência
prática de que teatro é uma arte poética-política pessoal e/ou coletiva, que sem
um comunismo mínimo entre os grupos
não se poderá desenhar um futuro (perspectivas) para o teatro local.
Por fim, penso que a maturidade requerida e desejada neste primeiro
passo coreográfico (pois feito coletivamente) possa apagar a busca por um
teatro rico, apressado e de técnica primária. Nossa arte é o último herói resistente
à homonenização subjetiva do revival do realismo nas artes. Somente o teatro
segue de forma peculiar a mostrar inusitadas maneiras da vida na cena num jogo
de multilinguagem para construção dos significados postos aos seus frequentadores.
Caso os 40 nos se passem, e para
evitar saber que “Quando despertamos estávamos mortos” lembro que à noção
POLÍTICA não se restringe a ressuscitar o FUMUC, mas construir - cobrando-, uma
política cultural para a cidade e para o segmento de nossa labuta.
Dito de outra forma, após sabermos
o quanto dinheiro dispõe o erário para cultura e artes locais, uma próxima
pergunta é saber que tipo de plano e políticas irão ativar essa dinheirama
toda?
Avante!
NIVALDO RODRIGUES