segunda-feira, 14 de maio de 2012

EM BUSCA DO POBRE TEATRO?


EM BUSCA DO POBRE TEATRO?



Ontem, dia mundial do teatro houve um encontro do “Movimento Teatral de CG” com representantes dos três atores socais mais destacados na área da atualidade: (UEPB, SESC e T.M.S.C./Secretaria Municipal de Cultura) para discutir, conforme o programa os  “ Desafios e perspectivas do Movimento Teatral Campinense”.

 Os fios que se teceram para um final de encontro positivo e propositivo tiveram sua urdidura traçada por duas contundentes constatações. A primeira, como uma agulha longa e fina de uma circularidade atávica de “que falamos dos mesmos problemas de 40 anos atrás”, ou seja, rememoramos a nostalgia de um passado que é presente. A segunda, tocada pela malsã e distante esperança (um futuro!?) de que há na fazenda criativa dos poderes públicos um novo evangelho capaz de impulsionar o homem e a máquina teatral para uma dignidade de ambos na arte.

Antes do corte final do encontro, demos um laço bem arrematado perguntando aos poderes constituídos sobre a existência e a execução de um orçamento para a cultura. Devo dizer que essa glosa pecuniária cresceu quando lembramos que existem muito$$ recursos para O Maior São João do Mundo angariado e gasto por outra pasta (Desenvolvimento Econômico) e não a da Cultura e cujos posteriores “argumentos” à uma prestação de contas são iminentes e eminentemente culturais.

 Ao razoável dessa questão de excepcionalidade e exclusividade dos festejos culturais juninos coube-nos lançar a pergunta sobre quais outras prioridades a gestão Mestra, de Desenvolvimento e Cultural locais têm para as demais manifestações culturais e para o teatro especificamente.

Tudo muito bom, tudo muito bem, mas realmente... Há um nó frouxo nessa malha de indignação sociocultural do segmento teatral, fruto de uma má articulação dos pleitores, ora artistas de teatro, que gostaria de pontuar como fundamentais à superação dos desafios e rumos às perspectivas... Impossíveis de serem tratados, de passagem, num encontro tão híbrido e talvez tresloucado de eflúvios festivos. Apesar de aceitar que por ora, é o máximo que conseguíamos fazer tivesse um milhão de encontros.

Comentei, de passagem, sobre a ilegitimidade de uma “classe teatral”  incapaz de coadunar qualquer matriz de MOVIMENTO TEATRAL CAMPINENSE. Penso que sem este bastião, haveremos de percorrer mais 40 anos. Gilmar Albuquerque, muito sábio já disse que infelizmente não estará, penso que irei imitá-lo nesta “ausência forçada”.

A titulo de organização mental pessoal apresento um fluxo das bases e expectativas avultadas no costurado das discussões:

Condições de produção (histórico de uma situação anterior) VERSUS um vindouro panorama profissionalizante (capacidade técnica de produção e estratégias diversas).

No pontilhado deste binarismo misturam-se sem endereçamento psicológico e, portanto, sem encaixe ou consciência de que o fazer teatral contemporâneo exige definidas noções e atributos intrínsecos quanto aos processos de produção, fruição e apreciação; e de instâncias estéticas, artísticas, políticas e de mercado. Pensar tais dimensões sobre o prisma nublado do diletantismo que marca maioria das produções com relação à execução destas particularidades enquanto pré-requisitos de uma ARTE, é no mínimo andar para trás (40 anos!?), pois notabiliza um esvaziamento da “mediação teatral”, dado crucial para o teatro de hoje. 

Sem a correta operação/intervenção na mediação teatral, a diversidade teatral campinense, pelo menos dos presentes no encontro, toma o gênero pela espécie, fazendo do teatro um prisioneiro das aspirações pessoais, de um derives entre o sucesso feliz e digno e uma insalubridade fantasmagórica.

Incluo aí as motivadoras participações da trívia. (para mim, a UEPB ainda não consolidou uma pauta suficientemente sistemática de suas ações para que os artistas/grupos de teatro considerem o último brejo; enquanto o SESC poderia avançar na feitura de um plano que desse condições para a produção local alavancar Giros Brasil afora, pois até o momento a veiculação é de mão única; já o T.M.S.C, inicia uma reestruturação promissora, mas altamente dependente da hierarquia estatal) cabe ao artista/grupos compreender que esse triunvirato jamais substituirá uma política cultural.

O espraiamento observado como movimento básico(e único) do MOVIMENTO TEATRAL parece não 
colaborar para que os grupos (ou uma certa mentalidade coletiva) possa cultivar uma ação cênica conjugando ARTE, TÉCNICA, MAGIA E POLÍTICA – esse velho bordão marxista – de difícil pedagogia aos confrades da arte cênica, mas de urgente e necessária absorção à corrente sanguínea do teatro de Campina Grande  .

Se uma determinada troupe realiza seu intento junto ao mercado com relativa absorção e independência ou se uma Cia qualquer mortifica sua criatividade e labor numa condição mínima de presença da platéia ou ainda, se um grupo traça sua investigação de linguagem que resulta producente; não se pode, a despeito de contemplar uma ou mais dessas dimensões, negligenciarem a fatura do conjunto, sob o risco de isolar-se na construção coletiva, necessária para o enfrentamento do teatro com/na sociedade (negociar com o mercado; ativar a participação política; exercer a criatividade artística; propor uma percepção estética).

As questões mais elementares que ora se discutem na seara teatral mundial perpassam por perspectivas que nem de longe parece atingir a maioria os teatrólogos e atores campinenses:
Consciência do processo de criação; ênfase nos processos coletivos; freqüente pesquisa e incorporação do espectador. Sem estes norteadores internos do teatro, ajuntado à consciência prática de que teatro é uma arte poética-política pessoal e/ou coletiva, que sem um comunismo mínimo entre os grupos não se poderá desenhar um futuro (perspectivas) para o teatro local.

Por fim, penso que a  maturidade requerida e desejada neste primeiro passo coreográfico (pois feito coletivamente) possa apagar a busca por um teatro rico, apressado e de técnica primária. Nossa arte é o último herói resistente à homonenização subjetiva do revival do realismo nas artes. Somente o teatro segue de forma peculiar a mostrar inusitadas maneiras da vida na cena num jogo de multilinguagem para construção dos significados postos aos seus frequentadores.

Caso os 40 nos se passem, e para evitar saber que “Quando despertamos estávamos mortos” lembro que à noção POLÍTICA não se restringe a ressuscitar o FUMUC, mas construir - cobrando-, uma política cultural para a cidade e para o segmento de nossa labuta.

Dito de outra forma, após sabermos o quanto dinheiro dispõe o erário para cultura e artes locais, uma próxima pergunta é saber que tipo de plano e políticas irão ativar essa dinheirama toda?

Avante!

NIVALDO RODRIGUES